Iodo. É eficaz contra a radiação em caso de acidente nuclear?

Artigo publicado em 18/10/2022

A Finlândia é um dos países que já pediu à população a compra de comprimidos de iodeto de potássio (sal de iodo que impede a absorção de iodo radioativo pela tireoide), para prevenir o aparecimento de câncer ou outras lesões na glândula tireoide. As farmácias finlandesas já estão esgotadas.
Por outro lado, a Polónia estabeleceu pontos de distribuição gratuita de iodeto de potássio.
A Espanha também está estocando iodeto de potássio, com a desculpa de que está renovando o estoque que estava prestes a expirar. Ou há uma preocupação real com um ataque nuclear iminente?

Como funciona o iodeto de potássio e para que serve?
A glândula tireoide está localizada na garganta e é essencial para o metabolismo, pois produz hormônios que controlam desde os batimentos cardíacos até o consumo de calorias. Esta glândula é vulnerável ao desenvolvimento de câncer.
Juan Carlos Galofré, especialista da Clínica Universidad de Navarra (CUN) e membro da Área de Tireóide da Sociedade Espanhola de Endocrinologia e Nutrição (TiroSEEN) explica que quando há radioatividade no ambiente, em vez de absorver o iodo normal através o alimento para realizar suas funções, esta glândula "incorpora o radioativo, que pode causar câncer no futuro".
Na verdade, se uma pessoa for exposta à radioatividade, ela pode desenvolver qualquer tipo de câncer e em várias partes do corpo. Mas, dado o aparecimento de uma nuvem radioativa, a forma de evitar que o iodo radioativo entre na tireoide e desenvolva um tumor nessa glândula é preenchê-la previamente com iodo normal. A ideia é bem simples: se já estiver saturado com a versão inofensiva desse iodo, não haverá lugar para ele absorver o elemento radioativo e não será seriamente afetado.
"É um tratamento preventivo e é por isso que se recomenda tomar estes comprimidos apenas em caso de possível perigo."
No entanto, deve-se levar em conta que o iodo radioativo passaria para a água e da água para as plantações e, portanto, para as hortaliças; Os animais comem esses vegetais e, eventualmente, o iodo radioativo será detectado no leite que consumimos.
Portanto, os efeitos prejudiciais permanecem ao longo do tempo e por isso a administração de iodeto de potássio é justificada, não se trata de se proteger apenas no momento, mas de se proteger a longo prazo.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) toda a população está suscetível ao câncer de tireoide, mas quem tem mais de quarenta anos tem menor expectativa de vida.

Através da alimentação obtemos o iodo que nosso organismo necessita. Embora geralmente seja recomendado incluir pouco sal em nossa dieta, uma pequena quantidade de sal iodado é uma das melhores maneiras de obter iodo.

Então, o que aconteceria na Espanha em caso de emergência radioativa?

Se houvesse um perigo real, as autoridades de saúde teriam que avaliar a situação e se encarregar de fornecer esses comprimidos à população. De acordo com o BOE de 21 de janeiro de 2022, o Centro Militar de Farmácia da Defesa está encarregado de fabricar e fornecer esses comprimidos, bem como retirar os que estiverem vencidos. Este órgão, sediado em Colmenar Viejo (Madrid), pertence ao Ministério da Defesa e agora realiza este trabalho no âmbito de um acordo de colaboração com o Ministério do Interior. Além disso, também é rotineiramente responsável pelo fornecimento deste produto às usinas nucleares espanholas.

A dose normal de iodo que todos consumimos diariamente e que consumimos através dos alimentos seria entre 150 e 200 microgramas por dia para um adulto. Em crianças, entre 90 e 120 microgramas por dia.

Essas quantidades nada têm a ver com as dadas na forma de pastilhas de iodeto de potássio preparadas para acidentes nucleares. Em vez de microgramas, eles são medidos em miligramas, como podemos ver na tabela publicada pela OMS.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) as doses necessárias de iodo em caso de acidente nuclear e por idade são:

Dose única recomendada de iodo estável de acordo com a faixa etária:

Se estudarmos a tabela com atenção, percebemos que as doses necessárias no caso da radiação nuclear são muito superiores às que podemos encontrar nos medicamentos de iodeto de potássio disponíveis na farmácia. Enquanto farmacêutico e atualmente em atividade numa farmácia comunitária, gostaria de salientar que os medicamentos que se comercializam na farmácia e com o respetivo registo sanitário, são sujeitos a receita médica, indicados para a gravidez e nada têm a ver com uso preventivo em no caso de um acidente nuclear.

Devemos ter cuidado com as notícias sensacionalistas que afirmam que a OMS recomenda o consumo de iodo em caso de acidente nuclear, embora seja verdade que não recomenda nenhum iodo. Conforme indica o BOE, se necessário, apenas o iodo que a Farmácia Militar atende à população serve para prevenir a toxicidade da radioatividade, já que somente este possui a dosagem indicada pela OMS.

Existem no mercado marcas de suplementos alimentares que já continham iodo, mas há outros laboratórios que, desde o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, lançaram no mercado suplementos de iodo, com o único objetivo de aumentar as vendas. Esses suplementos alimentares não servem como defesa contra um acidente nuclear, pois não possuem os miligramas de iodo necessários.

Foto: Wikipédia.